Queda no endividamento das famílias brasileiras se mantém pelo segundo mês consecutivo

Pesquisa da CNC revela diminuição no percentual de famílias endividadas, mas aumento na percepção de endividamento e persistência de dificuldades financeiras

Por Da Redação com Agência Brasil 05/09/2024 - 14:25 hs
Foto: The Digitalway


Pelo segundo mês consecutivo, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), conduzida mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), aponta uma redução no endividamento das famílias brasileiras. Em agosto, 78% das famílias relataram ter dívidas a vencer, uma leve queda em relação aos 78,5% de julho, mas ainda superior aos 77,4% registrados no mesmo mês do ano passado.

 

 

A CNC atribui essa tendência a uma crescente cautela das famílias em relação ao uso do crédito. Apesar da redução geral no endividamento, o número de famílias que se consideram “muito endividadas” aumentou para 16,8%, refletindo uma persistente preocupação com as finanças pessoais.

 

José Roberto Tadros, presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, destaca que o cenário macroeconômico continua influenciando o comportamento das famílias. “O crescimento de 1,4% do PIB no segundo trimestre superou as expectativas, mas ainda enfrenta desafios. Embora o alívio no endividamento seja um sinal positivo, os altos juros e a recuperação econômica lenta criam incertezas, podendo levar a uma possível retração no consumo e impactar o crescimento futuro”, afirma Tadros.

 

No que diz respeito à inadimplência, o percentual de famílias com dívidas em atraso permaneceu estável em 28,8% pelo terceiro mês consecutivo, ligeiramente abaixo dos índices de agosto de 2023. Entretanto, o número de famílias que não terão condições de pagar suas dívidas atrasadas aumentou para 12,1%, e a proporção de dívidas com atraso superior a 90 dias subiu para 48,6%, o maior nível desde março de 2020.

 

 

Felipe Tavares, economista-chefe da CNC, observa que, apesar da queda no endividamento, o comprometimento da renda das famílias continua elevado. “Em agosto, o percentual médio de comprometimento da renda foi de 29,6%. Isso demonstra que, embora as famílias estejam tentando controlar suas finanças, elas enfrentam desafios com prazos mais longos e altos juros”, explica Tavares.

 

O estudo também revela que 19,9% das famílias têm mais da metade de sua renda comprometida com dívidas, o maior percentual desde junho deste ano. A CNC projeta que o endividamento deve subir novamente no último trimestre de 2024, com uma possível elevação na inadimplência, que pode alcançar 29,5% até dezembro.

 

Em relação às modalidades de crédito, o cartão de crédito lidera com 85,7% de participação entre os devedores, embora tenha apresentado uma pequena retração de 0,4 pontos percentuais em comparação ao mês anterior. O crédito pessoal, por outro lado, teve um aumento de 0,5 pontos percentuais em relação a julho e 1,8 pontos percentuais na comparação anual, refletindo recentes reduções nas taxas de juros dessa modalidade.

 

O Rio Grande do Sul, severamente afetado por enchentes em maio, mostra um aumento contínuo no endividamento, que alcançou 92,9% em agosto, o maior índice desde outubro de 2023. O estado também apresentou 39,1% de famílias endividadas com contas em atraso, o maior índice desde dezembro de 2023, e 3,7% sem condições de quitá-las, o mais alto desde agosto de 2021.